29/05/16

OS INSEPARÁVEIS FADO E VINHOS





Cultura

Destino é Fato?

"Coincidência".
Que palavra feia...
Belo é o fado.
Francismar Prestes Leal









“Canto da nossa tristeza


Choro da nossa alegria


Praga que é quase uma reza


Loucura que é poesia


Um sentimento que passa


A ser eterno cuidado


Em razão duma desgraça


E assim tem de ser, é fado.”









In Fado “Fado dos Fados”






O Fado nasceu um dia,

quando o vento mal bulia

e o céu o mar prolongava,

na amurada dum veleiro,

no peito dum marinheiro

que, estando triste, cantava,

que, estando triste, cantava.




Ai, que lindeza tamanha,

meu chão , meu monte, meu vale,

de folhas, flores, frutas de oiro,

vê se vês terras de Espanha,

areias de Portugal,

olhar ceguinho de choro.




Na boca dum marinheiro

do frágil barco veleiro,

morrendo a canção magoada,

diz o pungir dos desejos

do lábio a queimar de beijos

que beija o ar, e mais nada,

que beija o ar, e mais nada.




Mãe, adeus. Adeus, Maria.

Guarda bem no teu sentido

que aqui te faço uma jura:

que ou te levo à sacristia,

ou foi Deus que foi servido

dar-me no mar sepultura.




Ora eis que embora outro dia,

quando o vento nem bulia

e o céu o mar prolongava,

à proa de outro veleiro

velava outro marinheiro

que, estando triste, cantava,

que, estando triste, cantava.
letra de José Régio


“Silêncio que se vai cantar o Fado"*














Expressão que imortaliza o grande momento. O momento em que se apagam as luzes e nos preparamos para libertar o que nos vai na alma. Nada se explica no Fado. Tudo se sente. 


Surgido na primeira metade do século passado, o Fado depressa se tornou na canção popular de Lisboa. Desde então, manteve sempre as suas características de expressão de sentimentos associados à fatalidade do destino e à saudade. E com o fado surgiram os fadistas, com os seus modos característicos de se vestirem, as suas atitudes não convencionais, desafiadoras por vezes. 


Durante as décadas de 30 e 40, o cinema, o teatro e a rádio projectam esta canção para o grande público. A figura do fadista nasce como artista. Surgem as Casas de Fado e com elas o lançamento do fado profissional e o aparecimento de letristas, compositores e intérpretes como Alfredo Marceneiro, Herminia Silva e Lucilia do Carmo.



O Fado atinge o seu apogeu e fica mundialmente conhecido graças à sonoridade da guitarra portuguesa e a vozes como a de Amália Rodrigues que popularizaram fados com letras de grandes poetas como Alexandre O’Neill, José Carlos Ary dos Santos e Luis de Camões. 





Cantar o Fado tornou-se uma atracção cultural e muitos turistas não dispensam a visita a uma casa de fado quando passam por Lisboa. As melhores encontram-se nos bairros típicos de Alfama, Mouraria, Bairro Alto e Madragoa, que mantêm o cantar com tristeza e com sentimento, mágoas passadas e presentes. 







* Expressão de Filipe Pinto mais conhecido por Marialva do Fado.

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