05/06/16

MENDOZA: A CAPITAL DO VINHO ARGENTINO

A EXUBERANTE CORDILHEIRA DOS ANDES
É MARCA REGISTRADA NA PAISAGEM DA REGIÃO



Quando o Botequim do Vinho decidiu visitar a região de Mendoza, na Argentina, o que nos moveu foi basicamente a curiosidade de conhecer aquele lugar que aparecia no rótulo de boa parte dos vinhos que bebíamos por aqui. Já tínhamos aprendido um pouco a apreciar os vinhos do Velho Mundo, tão diferentes dos produzidos na América do Sul. Porém, havia uma memória afetiva, quase de agradecimento, por termos conhecido esse universo do vinho, tão especial para nós, a partir daqueles produzidos em Mendoza.

Nas rodovias ou em pequenas estradas de terra, há sempre vinhedos e, ao fundo, a imponente Cordilheira dos Andes

O consumo brasileiro de vinhos ainda é bem pequeno se comparado ao de países europeus, por exemplo. No entanto, o hábito de acompanhar as refeições com uma taça que seja vem crescendo no país e, cada vez mais, os consumidores bebem vinhos finos, no lugar dos de mesa, aqueles que conhecemos como “de garrafão”. E é comum que muitos amantes do vinho tenham se iniciado com os produtos chilenos e argentinos, os mais consumidos no Brasil.

Vinhedo de malbec na vinícola Achaval Ferrer: variedade representa 37% da superfície plantada com uvas tintas em Mendoza

Mendoza está localizada nos pés da Cordilheira dos Andes, o que faz de seu clima e solo algo bastante especial. O clima quase desértico, com poucas chuvas, verão quente e inverno frio, agregado ao uso da água proveniente do degelo vindo da cordilheira, criou um lugar único, quase “mágico”, para a elaboração de ótimos vinhos.

É inesquecível quando se dá de cara com a exuberante cordilheira ao chegar à região. E continua sendo inesquecível a beleza que é tê-la como companhia a cada caminho, pelas estradas, a caminho de vinícolas dos mais diferentes estilos e tamanhos. É um prazer, uma emoção que dificilmente conseguiremos descrever.

Varanda e vinhedos vistos de dentro da moderna bodega Andeluna, na região de Tupungato, no Valle de Uco

Produção e regiões – Segundo informações do Instituto Nacional da Vitivinicultura da Argentina (INV), o país tem mais de 224 mil hectares de uvas plantadas (área equivalente, por exemplo, a 224 mil campos oficiais de futebol). Nada menos do que 71% desse total ficam em Mendoza.

A produção de vinhos continua crescendo por lá: de 2000 a 2015, houve um aumento de 13% na superfície com uvas plantadas. Em 2014, dados mais recentes disponibilizados pelo INV mostram que, das 1.284 vinícolas inscritas na Argentina, 920 estão em Mendoza. A região é, de fato, “a terra do vinho argentino”.

No verão, quando o tempo permite, vinícolas oferecem piqueniques em jardins como este na Altavista, em Chacras de Coria

Entre as uvas tintas, a mais plantada, com 37% do total, é a malbec, cepa de origem francesa que se tornou um ícone do país. Quando falamos em uvas brancas, a campeã é a chardonnay, com cerca de 19% da produção.

Os três principais polos de produção de Mendoza são os distritos de Luján de Cuyo, Maipú e a região do Valle de Uco. A primeira é conhecida como a Terra do Malbec. Isso está escrito até nos viadutos das principais rodovias. O departamento faz parte da região mais alta do rio Mendoza e está a cerca de 30 minutos da cidade.

Luján de Cuyo foi a primeira área a instituir a DOC (Denominação de Origem Controlada) para o Malbec, em 1993. Isso causou uma considerável e contínua melhora na qualidade e na quantidade dos vinhos, o que gerou um notável reconhecimento internacional da região.

Inscrição no viaduto não deixa dúvidas sobre onde estamos, mesmo quando o tempo nublado esconde a cordilheira

Maipú, por sua vez, tem como uma de suas características um solo que permite que as videiras tenham raízes bem profundas, melhorando sua força e sua saúde. Nessa região também há uma forte produção de azeites, com grandes plantações de Oliveiras.

Já o Valle de Uco é a região mais distante da cidade de Mendoza, está a cerca de uma hora e meia de carro para o sul. É a área produtora mais nova e está atraindo a atenção de investidores estrangeiros. Suas vinícolas são muito novas e modernas e os vinhedos estão localizados em uma altitude que ultrapassa 1.210 metros acima do nível do mar. O solo é bastante pedregoso, o que dá características diferentes ao vinho, se comparado aos produzidos nos outros locais.

Vinhedos com os tons de outono observados de dentro da sala de degustação da bonita bodega Viña Cobos



Turismo e visitas – O turismo na região é bem estruturado. Para visitar as bodegas, como são chamadas as vinícolas por lá, é necessário agendamento prévio. Em geral, as primeiras visitas são marcadas para às 9h30 e as últimas para às 15h30 ou 16h. Nós visitamos uma média de três por dia, sempre almoçando na segunda. Muitos dos almoços, dependendo do clima e da época do ano, ocorrem em varandas e decks com a vista para as Cordilheiras.

As estradas são bem sinalizadas e há placas com indicações para as bodegas em boa parte dos percursos. Um detalhe é que a lei de trânsito exige que todos os veículos circulem com os faróis acesos mesmo durante o dia. Não fomos avisados na locadora e, logo no primeiro dia, fomos parados pela polícia. Explicamos que éramos turistas, não sabíamos, e ficou tudo bem.

A única região em que tivemos alguma dificuldade em nos localizar foi no Valle de Uco. Faltam placas e os vinhedos ficam mais distantes das cidades locais, como Tupungato e Tunuyán.

Restaurante da bodega Dominio Del Plata, que tem vista para os vinhedos e para a cordilheira, quando o clima permite

O centro de Mendoza é bem organizado, tem ruas com muitos bares e restaurantes e muitos hotéis. Porém, como tínhamos a intenção de nos concentrar nas visitas às bodegas, ficamos hospedados no pequeno distrito de Chacras de Cória, bem perto de Lujan de Cuyo. À noite, quando fomos jantar ou tomar (mais!) um vinho, chegamos ao centro da cidade em menos de 20 minutos.

As vinícolas, em sua maioria, estão em prédios modernos e com uma excelente estrutura para receber os turistas. Normalmente, são construções imponentes e bem diferentes, por exemplo, das que conhecemos na Borgonha, na França, onde os vinhos são produzidos em pequenas casinhas. Os vinhedos também são grandes e podem ser vistos por onde se circula, seja nas autoestradas ou nas ruelas de terra batida.

Há muitos brasileiros visitando a região e muitos guias das bodegas até arranham um portunhol para facilitar o entendimento. Cada vinícola tem uma história especial, vinhos com características diferentes, feitos de diversas maneiras. E é isso que vamos contar para vocês a partir do próximo post. Vamos com a gente nessa aventura pelo mundo do vinho de Mendoza?

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