01/01/16

A TRAJECTÓRIA DO VINHO NO BRASIL







Os primeiros barris de vinho chegaram ao Brasil como parte da comitiva de Pedro Álvares Cabral, estocados para elevar o moral dos marujos e servir às missas que eram rezadas todos os dias durante a sua viagem. Desde então – numa história que mistura tantas influências quanto o possível, nesta nossa terra de diversidades – as vinhas brotaram e um vinho simples, ainda sem grande qualidade, era produzido em vinícolas dos estados do Sudeste e Nordeste do Brasil.


Conta a história que, ao momento da chegada em terras brasileiras, o vinho oferecido aos índios pela comitiva de Cabral já não estava mais apto para o consumo. Ao invés dele, foram os índios quem ofereceram seu Cauim, vinho fermentado de mandioca.


Comandadas por proprietários célebres como Brás Cubas e Maurício de Nassau, estas primeiras vinícolas em solo brasileiro encontraram o abandono mediante a descoberta de ouro em Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, em meados do século XVII. Esta primeira corrida do ouro não causou apenas uma grande escassez de alimentos – afinal, quem os plantava e colhia havia largado tudo em busca da riqueza imediata que o ouro poderia trazer – mas também transformou o vinho em um ícone de status e nobreza.


A produção de vinhos era tão proeminente em Pernambuco que a Ilha de Itamaracá, sede da vinícola de Maurício de Nassau, trazia três cachos de uvas em seu brasão de armas.




Durante a corrida do ouro no Brasil, o preço estimado de uma barrica de 5 litros de vinho era de 700g de ouro – mais de R$ 60.000 em valores de hoje.


Até idos do século XVIII o vinho era então uma das principais forças motrizes da economia nos grandes centros do país, ajudando a fomentar o crescimento da nossa indústria. Embora já houvesse a obrigatoriedade na compra de vinhos de Portugal pelo Brasil colônia, nossa produção enfraquecia a receita do Império, até o ponto em que, em 1795, a rainha D. Maria vetou toda a atividade industrial no país, abalando com seriedade a jovem indústria vitivinícola que se formava.


O restabelecimento dos vinhedos e da produção da bebida só ocorreu com expressão já no Brasil República, com a chegada dos imigrantes europeus no sul do país no final do século XIX.




Cerca de 90.000 imigrantes italianos chegaram a Serra Gaúcha entre os anos de 1875 e 1914, se estabelecendo em cidades como Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul.


Os imigrantes italianos, principalmente, foram em grande parte os responsáveis pelo ressurgimento da cultura do vinho por aqui. Cultivando na Serra Gaúcha os seus vinhedos como o sabiam, aos moldes de sua terra natal, adaptaram-se às variedades de uvas nativas que, resultando num vinho de excelente qualidade, não tardou a transformar os pequenos negócios familiares em vinícolas de grande porte, cujos rótulos eram levados, à carroça ou lombo de mula, ao longo de todo o território brasileiro.


Foi pensando em preços mais competitivos para seus produtos e num ajuste de contas mais adequado com o Governo, que estes mesmos produtores fundaram suas primeiras cooperativas, que no ano de 1912 se transformaram na primeira Federação de Cooperativas do país. Apesar da evolução, foi apenas na década de 20 que a verdadeira profissionalização chegou aos produtores da Serra Gaúcha, com a contratação de profissionais especializados no mercado vinícola diretamente da Itália pela Escola de Engenharia de Porto Alegre.


Tal preocupação foi o que garantiu a primazia dos vinhos gaúchos em todo o mercado brasileiro durante um longo período, ocasionando até mesmo falsificações, que motivaram também a criação do primeiro órgão regulador de qualidade, o Sindicato Vinícola do Rio Grande do Sul. Fundado em 1927 e sediado na cidade de Porto Alegre, o Sindicato operava como regulador da oferta e da procura dos vinhos regionais, garantindo a autenticidade de cada rótulo.


Fundada no final da década de 20, a Granja União fez história entre os vinhos do Brasil. Sua popularidade, inclusive, ajudou o consumidor a reconhecer os vinhos pelo nome das castas das uvas.


De 1930 até a década de 60, o estudo e a experimentação dentro do setor inspiraram a atenção do país inteiro. Novas variedades de uvas, modernização de técnicas e o estudo de diferentes composições de vinhos levaram a produção a outros polos produtores do país e até além: pela primeira vez, nomes franceses, alemães e italianos eram associados às produções nacionais, a produção de cortes e mono varietais se distingue e, com a chegada dos anos 70, a instalação de algumas das primeiras vinícolas estrangeiras em solo brasileiro.


Seagran, Cinzano e Almadén foram algumas das vinícolas estrangeiras a se estabelecer no Brasil durante a década de 70.


Os anos 80 presenciaram a criação das primeiras confrarias e encontros de degustação, onde verdadeiros entusiastas do vinho, fossem eles veteranos ou recém-chegados, continuaram a incentivar a busca pelo conhecimento e pelo desenvolvimento da qualidade da bebida no Brasil. Nos anos 90, com a instauração do plano Real e a facilidade de importação, vinhos do mundo inteiro invadiram as prateleiras das grandes redes de supermercados, apagando muito do destaque que os vinhos nacionais já haviam obtido – mas muito embora alguns puristas radicais afirmem que o vinho brasileiro perde em qualidade para os vinhos importados, as grandes regiões vinícolas do Brasil jamais pararam de progredir desde então.




Até hoje, a região da Serra Gaúcha concentra os maiores produtores de vinho no Brasil.


Neste mundo cada vez mais globalizado, não é difícil encontrar uma opinião diversa a esta ao alcance de um clique: mais e mais, os vinhos produzidos no Brasil ganham reconhecimento e prestígio dentro das principais publicações especializadas e excelentes críticas de conhecedores do exterior, reafirmando a qualidade da nossa produção entre os todo-poderosos vinhos europeus.

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